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terça-feira, 7 de agosto de 2012

A máquina de escrever de Cassiano Ricardo...


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Os meus livros...





A festa da máquina
Cassiano Ricardo


I

A maravilha de uma coincidência

repete o acontecimento e lhe põe o número de ordem.

O operário é, em menor ponto, um deus

movendo a máquina do dia e da noite.

Uma roda quer dizer o infinito.

Cada engrenagem é uma frase que as outras

engrenagens concluem.

A máquina já adquiriu qualquer coisa de humano e

de mágico.

E já raciocina por nós; e, se é esfinge,

será uma esfinge obsequiosa.

Não nos propõe enigmas, como a sua irmã,

nem nos concede prazo para a decifração obrigatória.

Propõe coisas exatas.

II

A multiplicação, a simultaneidade

e a supressão automática do futuro

fizeram dela um ser fantástico:

um acontecimento submetido, um monstro já sem

músculos

e sem sangue.

Uma divindade dotada de coração cheio de gentileza

mecânica.

Que muita vez enxuga as nossas lágrimas,

nos põe rodas nos pés e asas ao ombro,

e nos dispensa de qualquer saudade.

Ah, eu chamarei os anjos

para que venham ver como funcionam as suas rodas,

as suas vísceras maravilhosas.

E enfeitá-la-ei com lírios

para que ela se conserve obsequiosa e tranquila.

E os números gorjearão como pássaros

nas estatísticas da alegria.

E os anjos gostarão de ouvir o gorjeio dos números.

Livro 9

III

Ó máquina

tu me fazes pensar, porque há um mistério

na exatidão.

O exato é, também, maravilhoso

e tão inexplicável como a multiplicação dos peixes

e das orquídeas.

Ó máquina, tu serás o mais bonito brinquedo

do homem na sua inocência conquistada.

Porque a inocência não se perde, apenas;

conquista-se também como flor última,

depois de todas as experiências e de todas

as hecatombes.



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