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A festa da máquina
Cassiano Ricardo
I
A maravilha de uma coincidência
repete o acontecimento e lhe põe o número de ordem.
O operário é, em menor ponto, um deus
movendo a máquina do dia e da noite.
Uma roda quer dizer o infinito.
Cada engrenagem é uma frase que as outras
engrenagens concluem.
A máquina já adquiriu qualquer coisa de humano e
de mágico.
E já raciocina por nós; e, se é esfinge,
será uma esfinge obsequiosa.
Não nos propõe enigmas, como a sua irmã,
nem nos concede prazo para a decifração obrigatória.
Propõe coisas exatas.
II
A multiplicação, a simultaneidade
e a supressão automática do futuro
fizeram dela um ser fantástico:
um acontecimento submetido, um monstro já sem
músculos
e sem sangue.
Uma divindade dotada de coração cheio de gentileza
mecânica.
Que muita vez enxuga as nossas lágrimas,
nos põe rodas nos pés e asas ao ombro,
e nos dispensa de qualquer saudade.
Ah, eu chamarei os anjos
para que venham ver como funcionam as suas rodas,
as suas vísceras maravilhosas.
E enfeitá-la-ei com lírios
para que ela se conserve obsequiosa e tranquila.
E os números gorjearão como pássaros
nas estatísticas da alegria.
E os anjos gostarão de ouvir o gorjeio dos números.
Livro 9
III
Ó máquina
tu me fazes pensar, porque há um mistério
na exatidão.
O exato é, também, maravilhoso
e tão inexplicável como a multiplicação dos peixes
e das orquídeas.
Ó máquina, tu serás o mais bonito brinquedo
do homem na sua inocência conquistada.
Porque a inocência não se perde, apenas;
conquista-se também como flor última,
depois de todas as experiências e de todas
as hecatombes.
Nossa, quanta honra!
ResponderExcluirSó você, Sonya.
Beijos